Eldorado trágico: os caminhos violentos do garimpo no país de Maduro

Cheguei a Ciudad Guayana, no Sudeste da Venezuela, no início da noite. Era terça-feira, mas havia poucos carros circulando. As ruas, quase às escuras devido à iluminação precária, também estavam silenciosas. Tanto assim que na entrada do hotel era possível ouvir os grilos no jardim. “As pessoas se recolhem cedo”, disse Júnior Hernández, o motorista que me acompanhava na cidade. “Por causa da violência, não há muitos locais abertos depois das oito da noite.”

De fato. Quando saímos para jantar, encontramos aberta apenas uma arepera, quase vazia, onde me chamou a atenção um cartaz que dizia: “Proibido usar armas de fogo neste espaço.”

Areperas são pequenos estabelecimentos, parecidos com lanchonetes, que servem arepas, o tradicional pão de milho, com recheios variados: carne louca, pelúa (queijo amarelo com carne) ou dominó (feijão com queijo). Pedi um clássico da cozinha regional, arepa com queijo guayanés, e um suco de maracujá. Minha conta deu 70 mil bolívares, ou cerca de 3,50 dólares, no câmbio do dia – quase duas vezes o salário mínimo oficial da Venezuela, que era 40 mil bolívares no início de outubro, quando fui para lá (hoje é 150 mil bolívares).