Nova corrida do ouro movimenta o mercado de mercúrio em Roraima

Roraima não possui nenhuma mina de ouro legalizada, mas o Monumento ao Garimpeiro, uma estátua de sete metros de altura em sua capital, Boa Vista, deixa poucas dúvidas do entusiasmo local sobre o assunto.

A cada dia, frotas de carros, caminhões, barcos, pequenos aviões e até helicópteros transportam homens com suprimentos para a mineração de e para garimpos ilegais em reservas indígenas no estado. Alguns dos veículos carregam embalagens de mercúrio, a tóxica substância prateada usada pelos garimpeiros para o processamento do ouro.

“Não há Brasil sem os povos indígenas”. Entrevista especial com Kabaiwun Munduruku

Desde a divulgação da fatídica reunião ministerial de 22 de abril, a expressão “menino da porteira”, muito conhecida no Brasil devido a uma canção popular homônima, ganhou ares macabros quando Ricardo Salles disse que o momento da pandemia era para “passar a boiada”, referindo-se à flexibilização ainda maior da legislação ambiental. Recentemente, na primeira semana de agosto, Salles esteve na Terra Indígena Munduruku, no Pará, e mandou suspender as ações de combate ao garimpo ilegal.

“Não há nenhuma lei que permita o garimpo no território indígena e jamais permitiríamos. Há garimpo dentro da Mundurukânia, nas Terras Indígenas Munduruku e Sai Cinza”, explica Kabaiwun Munduruku, em entrevista concedida e gravada pela doutoranda em antropologia Rosamaria Loures, a partir das perguntas enviadas pela IHU On-Line. “Somos um povo com mais de 14 mil pessoas, divididas em 140 aldeias em diferentes regiões. Então queremos deixar claro e dizer que o povo Munduruku é, sim, contra o garimpo. Existem alguns indígenas, muito poucos, uma minoria, que são favoráveis ao garimpo”, complementa.

O que já era grave nas gestões anteriores, piorou com o atual governo federal, sobretudo com a intensificação das ameaças aos povos indígenas. “As mulheres Munduruku vêm sofrendo ameaças porque os garimpeiros não querem que façamos as denúncias. Nós tentamos avisar nossos parentes que o garimpo é errado, mas tem gente que não entende. Isso tudo piorou depois do governo Bolsonaro, que entrou no poder e começou a falar que os indígenas tinham ‘direito’ de garimpar; isso afetou muito a comunidade, trazendo muitas consequências ruins”, denuncia.

Em 14 dias do mês, Amazônia já tem mais queimadas que em todo setembro do ano passado

Os primeiros 14 dias de setembro deste ano já tiveram mais queimadas na Amazônia do que em todo o mês de setembro de 2019.

Até terça-feira (15), 20.485 focos de calor foram registrados no bioma pelo programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Em todo o mês de setembro do ano passado foram 19.925 focos.

Em três dias do mês, foram registrados mais de 2.000 focos de calor em cada um deles e setembro está com uma média de 1.400 queimadas por dia.