G1
Vanessa Fernandes
04 de novembro de 2021
Amazônia brasileira
Dois indígenas da comunidade isolada Moxihatëtë, na Terra Yanomami, foram mortos a tiros por garimpeiros. Entenda em quatro pontos o contexto de como vivem esses indígenas.
Dois indígenas da comunidade isolada Moxihatëtë, na Terra Yanomami, foram mortos a tiros por garimpeiros. A denúncia foi divulgada pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) nessa terça-feira (2).
As mortes teriam ocorrido há cerca de dois meses e meio, mas a informação foi repassada à Hutukara na segunda-feira (1º) por lideranças da Comunidade Apiaú, próximo de onde está instalada a casa comunitária dos isolados.
O relato é que o conflito ocorreu após os dois Moxihatëtëma se aproximarem de um garimpo chamado “Faixa Preta”, na intenção de expulsar os invasores do seu território. Os indígenas chegaram a atingir três garimpeiros com flechas, mas foram mortos a tiros pelos invasores.
Entenda em quatro pontos o contexto de como vivem esses indígenas.
Quem são e onde vivem
Os Moxihatëtë thëpë vivem em uma área na região da Serra da Estrutura, na Terra Yanomami. Eles vivem em total isolamento, sem contato com outros indígenas ou não indígenas, e sobrevivem exclusivamente do que cultivam e caçam na floresta.
Apesar de não terem contato com os demais Yanomami, os Moxihatëtëa são considerados um subgrupo da mesma etnia, porque possuem o mesmo tronco linguístico, segundo a Hutukara.
Ainda de acordo com a Associação, eles costumavam migrar, mas a comunidade está firmada na região da Serra da Estrutura há pelo menos 15 anos.
O nome Moxi hatëtëma thëpë vem do fato de que os homens da comunidade “teriam o prepúcio do pênis (moxi) preso entre dois barbantes (hatëtë-) amarrados na cintura”. A informação é do artigo “Novos “isolados” ou antigos resistentes?”, do Instituto Socioambiental (Isa).
Os Moxihatëtë thëpë são o único grupo isolado confirmado no território Yanomami, pela Fundação Nacional do Índio (Funai). O garimpo, no entanto, está cada vez mais próximo da comunidade. Uma reportagem publicada em setembro desse ano pela Agência Pública, denunciou que o acampamento dos invasores está a apenas 12km da casa comunitária dos indígenas.
Quando foram descobertos
As primeiras informações oficiais sobre a existência dos Moxihatëtë thëpë surgiram no final da década de 1990, quando indígenas da Missão Catrimani encontraram rastros da comunidade. Eles foram vistos pela primeira vez em um sobrevoo em meados de 2006.
As primeiras fotografias da comunidade foram divulgadas em novembro de 2016, após um sobrevoo na região realizado pela Funai. Aproximadamente 15 indígenas foram vistos na ocasião.
Habitantes
A Hutukara estima que atualmente há pelo menos 80 pessoas no grupo dos Moxihatëtë thëpë, de acordo com as imagens aéreas mais recentes da comunidade.
O artigo do Isa, “Novos “isolados” ou antigos resistentes?”, explica que essa contagem é feita pelo formato da casa comunitária em forma circular, com cerca de 50 metros de diâmetro, e composta por tetos inclinados lado a lado, pois, foi construída de acordo com o padrão Yanomami.
Esses tetos inclinados, de acordo o artigo, devem abrigar o mesmo número de famílias, ou seja, um total que se aproxima da estimativa da Hutukara, de 60 a 75 pessoas.
Por que são isolados
Segundo Angela Kaxuyana, membro da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), os Moxihatëtë thëpë são isolados por uma escolha da própria comunidade, para viver de acordo como “sua cultura prevê” e que “mantém esse povo vivo”. Ela defende que é necessário respeitar a autonomia de escolha desses indígenas.
“É necessário um compromisso do estado brasileiro para manter a vida dessas populações, dos povos indígenas isolados, Yanomami e outros povos isolados em toda a Amazônia. Partir do pressuposto do respeito a vida. A gente está falando de pessoas, a gente está falando de vidas, de autonomia de escolha do modo de vida dessas pessoas. O isolamento que a gente fala, de uma perspectiva externa, é para manterem sua cultura, resistência de viverem enquanto povo indígena”, defende Angela.
Com o avanço do garimpo na região dos Moxihatëtë thëpë, Angela explica que é necessário um compromisso do estado brasileiro e dos órgãos competentes para a preservação da vida dos indígenas. Não só com a retirada dos garimpeiros, mas a proteção territorial.
“Praticamente os garimpeiros estão dentro da casa do povo Yanomami isolado. Eles estão sendo obrigados a conviver com invasores, com pessoas que fazem mal e é essa tragédia aí, que aconteceu. Infelizmente, nós do movimento indígena, temos clareza que esse é o início de outras tragédias que virão”, disse Angela.