Governo promove farra do garimpo de ouro na Amazônia

Compartilhar

Ӿ

Folha de S. Paulo
Álvaro Costa e Silva
13 de dezembro de 2021
Amazônia brasileira

Para quem já admitiu que “o garimpo é um vício, está no sangue”, o compadre Grota deve ser um herói, merecedor de ocupar a galeria dos maiorais, ao lado do ditador Augusto Pinochet, do torturador Brilhante Ustra e do Major Curió, também torturador e líder garimpeiro.

Compadre Grota é o nome de guerra de Heverton Soares, um dos narcotraficantes —o outro é Silvio Berri Júnior, ex-piloto de avião de Fernandinho Beira-Mar— apontados pela Polícia Federal como chefes de organizações criminosas no Pará e que ganharam do governo o direito de explorar uma área de mais de 810 hectares de garimpo de ouro.

Garimpeiros atacam aldeia e incendeiam casa de liderança munduruku

Garimpeiros atacam aldeia e incendeiam casa de liderança munduruku

As permissões foram outorgadas e efetivadas pela Agência Nacional de Mineração entre 2020 e 2021. Elas são válidas para Itaituba, um município paraense batizado de Cidade Pepita pela grande quantidade de jazidas encontradas quase na superfície do solo. Dá até para imaginar o presidente da República, em seus momentos de tédio e aflição em Brasília, com vontade de jogar tudo para o alto e ir “faiscar”, como costumava fazer nos tempos de capitão do Exército.

O general Augusto Heleno também curte um garimpo. Ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência e um dos principais conselheiros de Bolsonaro, Heleno autorizou o avanço de sete projetos de exploração de ouro numa região praticamente intocada da Amazônia, um lugar de fronteira com a Colômbia e a Venezuela conhecido como Cabeça do Cachorro, onde vivem 23 etnias indígenas. O empenho do general não surpreende, se lembrarmos que o regime militar permitiu e incentivou Serra Pelada, no início dos anos 80.

O bate-boca entre o general Heleno e os chefes do Congresso

O bate-boca entre o general Heleno e os chefes do Congresso

Um estudo do Instituto Escolhas revelou que, das quase 111 toneladas de ouro exportadas em 2020, 17% saíram sem registro de terras indígenas ou de Unidades de Conservação da Amazônia. O ouro ilegal chegou a Canadá, Suíça, Polônia, Reino Unido, Emirados Árabes, Itália, Índia. Bye, bye, Brasil.

Texto original disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/alvaro-costa-e-silva/2021/12/governo-promove-farra-do-garimpo-de-ouro-na-amazonia.shtml